Não é um termo particularmente bonito ou usual. Não é, de todo, um termo que eu inclua no meu dia-a-dia. Podemos até dar-lhe uma conotação negativa numa qualquer troca de galhardetes mas nem aí provocaria um grande impacto.
“Vou esmigalhar-te todo!”, ninguém diz isto. Se o disserem, bem… Pelo menos não digam “top”.
Já se eu disser “Vou desfazer-te todo!” já soa melhor; acho que até um simples “Vou reduzir-te a migalhas!” ficaria bem.
Lutas de egos deste género só as tenho contra o pão. Só contra ele é que faz sentido. No fim de contas estamos só a falar de migalhas…
O pão é um alimento base da gastronomia alentejana e aqui falo por experiência própria. O pão às refeições - mesmo todas - vem a acompanha-me desde cedo. Os meus pais, os meus tios e os meus avós, todos eles são frenéticos fãs de pão, excepto quando estão de dieta.
Açorda, ensopados, caldos, gaspachos ou migas. Tudo com pão e tudo devidamente saboroso.
Seja pão fresco, seja pão de ontem ou seja qual for o pão há sempre boas soluções para o pôr no prato.
Foi em memória às migas do meu tio Guilherme que decidi pegar num pão de centeio de ontem para fazer umas migas de bacalhau e espinafres.
Assim, piquei uns bons 4 dentes de alho e refoguei numa boa quantidade de azeite - atenção que vão precisar de bastante azeite para esta receita.
Entretanto, ensopei o pão em água quente e escorri, tirando todo o excesso de água.
Quando o alho estiver bem loiro, o pão segue para a frigideira e sejam generosos a fritar o pão. Quanto mais dourado - não queimado! - melhor!
Mexi o pão na frigideira e quando o vi suficientemente dourado, deitei o bacalhau desfiado, que precisa apenas de uns 5 minutos no lume alto da frigideira.
Por fim, já com o lume desligado, deitei os espinafres, mexi e deixei cozinhar no calor residual.
A cozinha alentejana é simples, cheia de sabor e história.
Aguardava, aliás, por Outubro. Este é o mês que eu associo, realmente, ao Outono e também é um dos meses que eu mais gosto - não só porque é o mês do meu aniversário (Alerta Modo Narcísico) - porque é o mês em que mais gente conhecida celebra os anos - não temos todos um mês como este? -; porque é o mês em que ainda faz sol e, ao mesmo tempo, um frio confortável; e porque é o mês da comida com castanhas e batatas-doces.
Quando penso nisto, a reação imediata é ligar o forno para aquecer a casa e, ao mesmo tempo, colocar qualquer coisa lá dentro.
Este Outono que Outubro nos traz tem coisas interessantes por onde se pegar. Há quem diga que o Verão e o Inverno são os extremos das quatro estações do ano, mas os Chineses não pensam assim: diz-se que, para eles, há uma polaridade sazonal bem diferente da nossa, isto é, um Outono que simboliza adversidade e uma Primavera que simboliza regeneração. Em Inglês, há ainda duas formas de tratar o Outono e eu acredito que é por ser uma estação polifacetada, tal como o próprio clima que é característico dela: “Autumn” ou “Fall”. Há quem diga que “Fall” vence “Autumn” em todos os sentidos, por ser um nome mais curto, mais poético e mais pitoresco.
A favor do Outono, na cozinha ligou-se o forno para fazer a bendita da batata-doce; também se ligou o fogão em lume brando e deu-se forte no slow cooking.
Num tacho grande e sem medos, comecei por fazer uma cama de cebola, louro e pimenta não moída.
Tirei a pele a 1 grande batata-doce e cortei às rodelas, todas do mesmo tamanho, e com a grossura de um dedo.
Fiz uma cama de batata-doce por cima da cebola.
Coloquei por cima da batata-doce, duas postas de bacalhau bem grossas.
Não precisei de sal porque sabia, à partida, que o bacalhau já era salgado.
No entanto, tal como já vos tinha dito, algo assim pede pimenta e eu coloquei bastante pimenta.
Lume brando, 40 minutos.
Entretanto, tinha batatas-doces no forno para a sobremesa.
E por hoje foi tudo, sem muito trabalho, como requer um bom Domingo.